::: O desafio metálico

Uma série de antigos sobrados residenciais construídos na década de 40, sem recuos laterais, localizado em atual área de uso misto, isto é, residencial versus comercial. Este é o perfil do terreno localizado para criar a proposta de um conjunto comercial.

                      > imagem: início da década 50


Localizado na área central de São Vicente/SP, o lote (residência de pastilhas amarelo) classificado em Zona UP3A1 permitia, na época da aprovação do projeto, a ocupação do lote na sua totalidade, sem exigências de recuos, porém a partir do primeiro pavimento a taxa de ocupação (projeção) em até 80% do terreno e a taxa de aproveitamento em 6x. Atualmente a legislação foi revisada, exigindo na Zona UP3A1 uma taxa de ocupação/projeção de até 80% e recuo mínimo posterior (fundos) no mínimo com 3metros.

Desta forma era possível criar e erguer um novo imóvel de até seis pavimentos para neste lote. Portanto, esse novo projeto iria marcar um novo conceito de ocupação desta tradicional rua residencial da década de 40 para então o uso comercial de fins corporativos.

O desafio estava lançado em desenvolver um projeto arquitetônico e estrutural num lote estreito e sem interferir nas residências vizinhas existentes.

A proposta desenvolvida somada com a necessidade da região partiu para a elaboração de um projeto com salas amplas, ventiladas e explorar o máximo da iluminação natural.

Devido a largura do lote ser muito estreita, e a própria legislação não exigir recuo laterais, a forma escolhida para desenvolver o cruzamento de ar e iluminação na parte posterior ao imóvel foi a criação de um duto com 10m², mínimo exigido pela legislação de obras. Com isso, atenderia a circulação de ar para a caixa de escada (emergência), ventilação dos lavabos, casa de máquinas (elevador) e halls das salas do conjunto.

Desenvolvido o projeto de Arquitetura, agora o desafio era “qual a melhor opção estrutural?”.

No início citei da existência de antigos sobrados e sem recuos laterais, portanto, construções unidas.

O primeiro passo era identificar o projeto estrutural do sobrado, verificando o processo no arquivo da Prefeitura e, para surpresa, constava apenas um conjunto de plantas arquitetônicas muito antigas e danificadas, compondo esse processo de plantas do conjunto da totalidade das residências à serem construídas, plantas ampliadas de módulos das unidades residências “padrão” e o memorial descritivo. Porém, como sabemos, ao longo dos anos, os imóveis sofrem alterações e quase não são retificadas as plantas da situação real.

Verificou-se “in loco” o tipo de material utilizado e a sua estrutura: alvenaria divisória em tijolo de barro trançado dois em dois com espessura final variando de 23 a 25cm, alvenaria interna (divisórias dos ambientes) em linha com tijolo de barro e espessura final variando de 12 a 15cm; laje em concreto armado p/ piso e cobertura com carga de 150kgf/m², anotado em memorial descritivo. Fundações rasas formada por vigas baldrames e alguns pontos foram localizados sapatas cilíndricas sobre estacas de eucalipto (vide foto ao lado).

Outro fator verificado foi a forma da construção desse conjunto arquitetônico, observando que eram dois sobrados por módulos, portanto a preocupação era “desligar” a atual residência da outra metade do módulo e assim criar uma nova fundação independente do atual e do próximo módulo vizinho. A foto ao lado mostra o sobrado já demolido e "desligado" do sobrado verde (módulo arquitetônico).

Até aqui identificado o processo estrutural existente. A partir desse momento era necessário qual a nova fundação e estrutura do edifício a ser erguido.

Após analise de sondagem, observou-se que poderíamos adotar uma fundação não tão profunda, porém o suficiente para locar novas sapatas e baldrames. Realizar o tradicional bate-estacas seria, com certeza, prejudicial às casas vizinhas, então adotou-se a opção de estacas perfuradas nos pontos demarcados.

Para evitar futuros problemas, também cuidadosamente foi mantido um recuo mínimo de 12cm de cada divisa, para que qualquer vibração ou deslocamento viesse a minimizar o impacto nos antigos imóveis.

A partir desse momento também optou-se por uma estrutura mais leve, rápida e que evitasse mais interferências nas residências vizinhas, tendo em vista que não há recuo lateral.

A opção foi partir para a estrutura em perfil metálico e laje pré-moldada em EPS (preenchimento com isopor). Para o fechamento lateral utilizou-se lajotas cerâmicas furadas com espessura final de até 15cm.

Neste momento, adotado o procedimento estrutural a ser erguido, esse projeto seria o pioneiro na cidade de São Vicente/SP a utilizar estrutura metálica acima de três pavimentos.

A seguir algumas imagens durante a obra.:

soldagem da estrutura metálica p/ a laje pré-moldada do pavimento I

estrutura pronta p/ receber a laje pré-moldada

estrutura metálica e laje pré-modada (EPS) concretada até o pavimento III

fechamento lateral (alvenaria) e estrutura e laje concretada p/ o pavimento V

laje de cobertura (final) sendo parte dela em ângulo e laje da marquise (terraço)

vista geral de sua implantação entre as residências

vista geral de sua implantação entre as residências

Foi um projeto de alto risco, porém todas as medidas de segurança foram praticadas para os prestadores de serviços, vizinhos, pedestres e cuidadosamente para os materiais, como: vigas metálicas, soldagem, lajes, concretagem, alvenaria, etc; pois quanto mais alto estivessemos, e qualquer descuido, poderíamos ter magnitudes conseqüências.

Graças à DEUS, todo o processo construtivo transcorreu sem grandes incidentes e dentro do previsto!

Todos os projetos solicitados foram aprovados nos órgãos competentes de obras particulares e Bombeiros.

Mesmo externamente já concluída, ainda é uma obra que atrai a atenção dos populares, colegas de profissão e até da imprensa, conforme matéria publicada no jornal A Tribuna, em 2007.

Antes marcada pelas tradicionais residências, e hoje com o avanço comercial na área central, esta obra oficializa um novo período para a Rua Expedicionários Vicentinos.

Foi um gratificante desafio ao colocar em prática um projeto de Arquitetura num lote urbano aonde muitos jamais esperavam erguer tal proeza.

“é um pequeno milagre que a Arquitetura proporciona.” RCastanho, A Tribuna - 2007.

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